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MULHERES DE ESQUERDA NA POLÍTICA: CANDIDATA A VEREADORA MAIS VOTADA EM BAURU É UMA MULHER NEGRA DA ESQUERDA

Estela Almagro (PT) teve primeira reeleição com 7.586 votos válidos; Andrezza - Chapa Bauru Tem Voz (PSOL), ficou em 2º lugar, com 964 votos válidos, seguida por Sandra Sposito (PSOL), com 912 votos

MULHERES DE ESQUERDA NA POLÍTICA: CANDIDATA A VEREADORA MAIS VOTADA EM BAURU É UMA MULHER NEGRA DA ESQUERDA
MULHERES DE ESQUERDA NA POLÍTICA: CANDIDATA A VEREADORA MAIS VOTADA EM BAURU É UMA MULHER NEGRA DA ESQUERDA (Foto: Reprodução)

*Por Andrezza Marques 



As mulheres foram destaque nas eleições de 2024 em Bauru, que reelegeu pela primeira vez uma parlamentar negra na Câmara Municipal: Estela Almagro (PT), obteve um resultado estrondoso e histórico, sendo a vereadora mais votada do município com 7.586 votos válidos, número suficiente para garantia da única cadeira de seu partido no legislativo. 

“O resultado das urnas nos trouxe uma alegria muito grande de reconhecimento do trabalho desenvolvido neste que foi o primeiro mandato como vereadora. Eu fui vice-prefeita da cidade de Bauru, fui a primeira mulher a compartilhar o executivo da cidade de Bauru, eleita e reeleita, de 2009 a 2016. De qualquer forma, esse é o meu primeiro mandato como vereadora e ser reeleita com essa votação histórica dá uma dimensão da assertividade do mandato e do quanto nós nos dedicamos a pautas que nos são caras, principalmente do ponto de vista de gênero, classe e de raça, e o compromisso com o serviço e o servidor público que são funções essenciais da máquina pública, principalmente para aquela parcela que depende dos serviços públicos que é a grande maioria”, conta Estela. 


Mandato de (mais) luta: Única mulher na câmara de 2025


Nessas eleições de 2024, a vereadora foi a única parlamentar mulher a ser eleita em Bauru, pior ano para a democracia na cidade, que elegeu apenas oito novos vereadores, mantendo 13 mandatos, com o de Estela. Destes, 12 são políticos da mesma coligação da prefeita.  A cidade que tinha 15 vagas para o legislativo teve aumento no número de 4 cadeiras aprovado por um projeto de emenda à Lei Orgânica do município no final de 2022. O novo total de 21 cadeiras passa a valer a partir de 1º de janeiro de 2025.


“Teremos agora uma legislatura, a partir de 2025, com apenas uma mulher nessa casa, eu. A honra da votação expressiva não tira a preocupação de um subdimensionamento da importância da presença da mulher nos espaços de poder. Muitas mulheres candidatas, mas a política de cotas traz uma zona de conforto que infelizmente não faz com que os partidos políticos sejam de fato pressionados por essas lideranças femininas ou feministas, que ainda não estão suficientemente empoderadas do pragmatismo que norteia as eleições”, declarou. 


Representatividade x Pluralidade: Afinal, o que significa ser uma mulher na política?


Bauru teve 357 candidatos/as a vereança nas eleições de 2024, destes 109 eram mulheres e mesmo com incentivos como as cotas partidárias, fora Estela, nenhuma foi eleita. As cotas partidárias para mulheres no Brasil têm o objetivo de aumentar a participação feminina na política. A Lei nº 9.504/1997, conhecida como Lei das Eleições, estabelece que, nas eleições proporcionais (como para a Câmara dos Deputados, assembleias legislativas e câmaras municipais), cada partido ou coligação deve reservar no mínimo 30% das candidaturas para mulheres - Isso significa que, se um partido registrar 100 candidatos, no mínimo 30 devem ser mulheres. 


Esse mecanismo é uma ação afirmativa para enfrentar a histórica sub-representação feminina nos espaços de poder político. A Justiça Eleitoral fiscaliza o cumprimento dessa cota e pode barrar o registro de candidaturas de partidos ou coligações que não respeitem esse percentual. O intuito das cotas é proporcionar uma igualdade de condições para que mais mulheres possam disputar cargos eletivos, contribuindo para uma democracia mais representativa e inclusiva, mas as cotas acabam não funcionando assim na prática.


“Ser candidata não significa ter acesso à renda dos partidos, não significa acesso ao fundo partidário, não significa ter acesso a tempo de TV e às decisões, inclusive das estratégias das eleições, e isso faz com que as mulheres ainda sejam utilizadas muito como suporte dos processos eleitorais e não como sujeito dos processos eleitorais. E aí, independente da política de cotas, vai-se tendo um resultado das urnas que apontam para câmaras municipais, para legislativos e também para executivos, cada vez mais masculinos, brancos e elitistas. Então, para nós, a responsabilidade como uma mulher preta, reeleita e única mulher numa câmara de 21 cadeiras é um desafio, uma responsabilidade muito grande”, finaliza Estela. 


Com tudo, seguem AS líderes…


Mesmo com as dificuldades citadas por Estela no acesso e participação feminina na política, como a falta de apoio dentro dos partidos e inclusive em diversas esferas sociais, outras mulheres de esquerda também tiveram grande visibilidade na corrida ao pleito em 2024. 


Re-colocando o PSOL em evidência na cidade de Bauru, Andrezza Marques - chapa Bauru Tem Voz e Sandra Sposito, foram as segundas colocadas em números, com 964 e 912 votos respectivamente. As candidatas de primeira viagem foram as mais votadas da coligação PSOL/Rede na cidade. 


“Foi surreal contar com esse resultado, na primeira candidatura. Não imaginava receber essa confiança de quase mil pessoas em nosso trabalho e propostas. Sem contar que toda a nossa comunicação foi orgânica, de boca a boca, não impulsionamos sequer um post nas redes”, conta a jornalista e educadora social, Andrezza Marques, que liderou a chapa Bauru Tem Voz, ao lado de Vinicius Thomas e Silvio Durante.


Dialogando com a juventude, as mulheres, os trabalhadores e a periferia, a chapa em homenagem a Tetê Oliveira, foi muito bem recebida pelos bauruenses. “Tínhamos o propósito e o legado de manter o nome de uma das maiores referências de luta e militância vivos nas eleições em Bauru e acredito que o desafio foi concluído com sucesso”, pontuou a jornalista.


A psicóloga e professora universitária Sandra Sposito, também mobilizou a cena da esquerda local, defendendo pautas como a saúde mental, o feminismo e os direitos da comunidade LGBTQIAPN+. “Foi cansativo, mas muito gratificante. Foram muitas emoções no processo, mas coletivamente, conseguimos um ótimo resultado”,  declarou Sandra, que teve o apoio massivo do movimento estudantil da UNESP Bauru, contando com membros do coletivo Afronte. 


Apesar de não eleitas, nem para a suplência, por não suficiência do número total de votos do coeficiente partidário para cadeira na câmara da coligação PSOL/Rede, as candidaturas de Andrezza e Sandra - assim como a de Estela-, entraram para a história de Bauru, e se depender delas, a militância feminina socialista segue muito bem representada na região da 014. 

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