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LETALIDADE POLICIAL EM BAURU: DO FIM DE 2024 PARA O INÍCIO DE 2025 CASOS DE JOVENS ASSASSINADOS E AGRESSÕES DENUNCIADAS AO PORTAL FMC COMUNICA, JÁ SOMAM 10

Na primeira sexta-feira do ano, (03), mais um jovem foi morto em ação da BAEP no Jd. Country Club; movimento “Vozes das Periferias” tem ato em protesto neste domingo 19 /01 às 15h

LETALIDADE POLICIAL EM BAURU:  DO  FIM DE 2024 PARA O INÍCIO DE 2025 CASOS DE JOVENS ASSASSINADOS E AGRESSÕES DENUNCIADAS AO PORTAL FMC COMUNICA, JÁ SOMAM 10
Na imagem, bermuda "forjada", segundo a mãe, em ação da polícia que matou o 1º jovem em 2025


por Andrezza Marques



Morte de Lucas é a 1ª ação da polícia em 2025: Casos de assassinatos e agressões só aumentam em Bauru


Na primeira sexta-feira de 2025, dia 3 de janeiro, a BAEP assassinou mais um jovem de periferia bauruense. Lucas Fernando de Souza Pontes, de apenas 18 anos, foi morto em uma ação policial por volta das 18h, no bairro do Jd. Country Club. 


No B.O, os policiais alegam que houve troca de tiros e que apreenderam com o jovem, além da arma, drogas e uma balança de precisão, mas a família contesta essa versão. “Ele não era envolvido com drogas ou facção e também não tinha armas para trocar tiros”, disse a mãe da vítima, Edna do Carmo Pontes.


Lucas era estudante e não tinha envolvimento algum com criminosos, de acordo com Edna, a polícia cometeu um engano ao ter iniciado a abordagem chegando ao local em que Lucas estava já efetuando os disparos. “Todas as roupas do Lucas estavam numa mochila que eu havia deixado com ele, despejadas no chão, mas eu não achei a mochila, até agora. Ela também não aparece no boletim de ocorrência. O Lucas foi morto com uma bermuda jeans, mas no local havia apenas uma bermuda branca, ensanguentada. Não tem lógica. Então, acho que eles viram que eles erraram, tentaram contornar o erro, viram que não tinha mais solução e deram o tiro de execução. Entendeu?”, narrou a mãe da vítima. 











Pertences e local da execução da vítima no Jd. Country Club



O 1º caso de assassinato pela BAEP em Bauru no ano de 2025 é só mais um dos que já chegam ao montante de nove, sem respostas para as famílias como nome dos policiais responsáveis e envolvidos ou ações de punição efetivas, como expulsão da corporação. 


Em 2024, o Portal FMC Comunica teve acesso ao relato de pelo menos 8 famílias que tiveram seus filhos brutalmente executados pela polícia em Bauru, sem contar nos outros casos de violência e agressão, como o do jovem Thiago Rodrigues Barbosa, de 19 anos que apanhou junto com seu primo de policiais que afirmaram ser os mesmos responsáveis pelo assassinato de Lucas Alexandre Simplício da Silva, morto com 3 tiros há 1 ano e 3 meses no bairro do Otávio Rasi.


“Eles quase me mataram e ainda afirmaram que mataram o Lucão, além de destruírem minha moto 0km”, contou Thiago em denúncia feita ao Portal em dezembro de 2024. Após a abordagem, o jovem ficou com ferimentos sérios em diversas partes do corpo e na cabeça. 



Comentário de Thiago em publicação da FMC Comunica, denunciando as agressões.


As práticas terroristas  presentes em todas as abordagens despreparadas e desproporcionais da Polícia Militar e BAEP no estado de São Paulo não são novidade, mas têm sido intencionalmente agravadas e incentivadas culpa do governador Tarcisio e seu secretario Derrite.

Necropolítica e limpeza nas periferias: O que o governo de Tarcísio e Derrite tem a ver com a violência da PM?


Com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o  secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (ex-deputado federal pelo Partido Liberal), a Polícia Militar de São Paulo soma 737 assassinatos em 2024. Os dados são do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público (Gaesp-MPSP) e consideram as mortes cometidas por policiais militares em serviço e de folga. 

Até a Organização das Nações Unidas expressou grave preocupação com o aumento alarmante das mortes por intervenções policiais em São Paulo, sob a gestão Tarcísio de Freitas. O Relatório mais recente destaca que em 2024, 673 pessoas foram mortas por policiais militares, representando um aumento de 46% em relação ao ano anterior. 

"Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com o que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí", disse o governador a jornalistas durante evento na capital para celebrar o Dia Internacional da Mulher em 2024, após denúncias de que ocorriam abusos na condução da Operação Verão, deflagrada pela Polícia Militar na Baixada Santista.A resposta contundente, faz parte do modus operandi de desprezo pelos mecanismos internacionais de proteção de direitos e um sinal preocupante de negligência em relação à necessidade de controle da letalidade policial. A ONU reforça que é fundamental garantir investigações independentes e a responsabilização de agentes públicos envolvidos em abusos.

As estatísticas apresentadas indicam que, em apenas dois meses, 57 pessoas foram mortas por policiais na “Operação Verão” na Baixada Santista, um aumento drástico comparado aos anos anteriores. A ONU, em sua denúncia, pede a implementação de medidas urgentes, como o uso de câmeras corporais e a monitorização independente das operações policiais. A organização ressalta que a proteção dos cidadãos deve ser priorizada, e a violência estatal não pode ser uma resposta aceitável para a segurança pública.

Assim como em Santos, em Bauru, os jovens mortos são extrato da política de extermínio e desprezo pelos corpos e vidas periféricas do governador Tarcísio e Secretário de Segurança Pública, Derrite, que em 2 anos de governo fizeram as mortes aumentarem em cerca de 85% no estado.


O Luto virou luta:  Busca por justiça das mães no movimento “Vozes das Periferias”, em Bauru



Resultante da indignação coletiva e da busca por justiça das mães e famílias dos jovens vítimas da letalidade policial em Bauru, surgiu em dezembro de 2024, o Movimento “Vozes das Periferias”,  primeira ação comunitária local contra a polícia assassina na cidade. 


“Para mim o movimento representa um grito de basta, chega de violência, criado para que outras mulheres, mães e pais não passem pela mesma dor e que tenham o direito de justiça por seu ente querido que foi brutalmente assassinado sem direito algum”, conta Nilceia Alves, criadora do movimento e mãe de Guilherme Alves Marques de Oliveira, jovem inocente de 18 anos, morto pela BAEP no Jd. Vitória em Bauru em outubro de 2024.


Nilceia que já sofre com perseguições da polícia e sofreu retaliações em diversos momentos na cidade, atualmente está desempregada e está em campanha de arrecadação de fundos para se manter ativa no movimento de forma digna, através do PIX 32791409866.


A mãe e familiares ainda foram agredidos por policiais militares no velório da vítima, o que a motivou ainda mais a transformar o luto em luta. “A  importância do movimento em  minha vida além de não me calar e manter o meu filho presente, é buscar justiça com garra e provar a inocência não só do meu filho como de outros jovens pretos e favelados que sofrem abusos de autoridades”, pontua. 


O Movimento “Vozes das Periferias” em Bauru já reúne as mães de 9 jovens mortos desde 2020 pela polícia. Com reuniões e atos mensais, o movimento busca respostas e os direitos das famílias e vidas tomadas de  Lucão, Bololô, Gui, Luizinho, Ygor, Thayllan, Elias, Rick e agora Lucas Fernandes. 


Panfleto em divulgação do ato do próximo dia 19



No próximo domingo, 19 de janeiro, a partir das 15h, haverá mais um ato contra a violência policial e em homenagem a Thayllan, com concentração em frente ao CRAS do Santa Cândida.  O movimento se articula por meio de um grupo aberto no WhatsApp e também possui o perfil @vozesperiferiasbauru no Instagram.




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